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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CRISE NO RJ – UM ARSENAL DE LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL

O gol olímpico do governo do Rio de Janeiro foi marcado por um passe errado do adversário. Muito provavelmente articulações já vinham sendo amarradas para conter o poder do tráfico, sobretudo como parte dos esforços para realização dos eventos esportivos que se aproximam. Mas o tráfico resolveu testar seu poder e percebeu tarde demais que ele estava superestimado e adiantou o cronograma.

Copa e Olimpíadas já oferecem seu primeiro resultado positivo para a cidade do Rio de Janeiro. Uma pena que se tenha esperado um evento de repercussão internacional para libertar a população do tráfico de drogas, povo refém há quase 30 anos.

Os ataques à cidade deflagraram ações cinematográficas, parcerias inimagináveis entre poderes até então, e finalmente o apoio político e social fecharam o círculo que faltava para dar a força necessária para que se chegasse à retomada de áreas até então dominadas pelos bandidos.

Um exercício salutar nesse momento é fazer um paralelo com crises empresariais: se você não conta com o apoio do seu público interno as coisas ficam sempre mais difíceis.

A condução da crise está sendo permeada por atos simbólicos que reforçam os valores que se pretende perpetrar. Um dos mais visíveis foi o hasteamento das bandeiras do Brasil e da Polícia Civil do Rio de Janeiro no alto do morro, onde está sendo construído um teleférico, no Complexo do Alemão. Este ato foi marcado por um dos mais gritantes escorregões de comunicação subliminar, numa demonstração de arrogância sem precedentes da Polícia Civil do RJ, ao hastear sua bandeira ao lado da bandeira do Brasil. O ato, aparentemente simples, excluía as demais forças de repressão, que foram decisivas na execução do plano de retomada do Complexo do Alemão: Marinha, Exército, Polícia Federal, BOPE e Bombeiros. O vexame durou menos de meia hora, até que alguém de bom senso substituísse a bandeira da Polícia Civil pela bandeira do estado do RJ.

O comitê de crise não está economizando mensagens verbais e não verbais para reforçar a importância da ação em curso, e o hasteamento das bandeiras é uma das mais robustas destas manifestações. Outra ação bem planejada para reforçar todo trabalho, valores e missão da tropa, foi a apresentação do traficante Zeu, ao 16º Batalhão da Polícia Militar, nos moldes de um troféu de Fórmula 1.

O atrito entre polícias civil e militar ficou evidente durante esta apresentação, quando uma repórter pergunta ao policial que apresentava o traficante sobre a prisão de outro bandido. A resposta foi curta e incisiva: “não sei, isso é com a Polícia Civil”. Um back-dropp, a que tudo indica preparado às pressas, foi posicionado atrás do bandido apresentado como troféu, e evidenciava o dono da obra: Polícia Militar. Duas auxiliares da Polícia se esforçavam para manter o quadro na posição que renderia a melhor imagem.

Ainda no quesito comunicação, a imprensa também teve papel fundamental. Por meio dela as autoridades mandavam recados aos chefes do tráfico, motivava a população e esclarecia quem estava no comando a partir de então. A imprensa trabalhou intensamente para promover o efeito demonstração que as autoridades tanto necessitam nesse momento.

Houve, evidentemente, os costumeiros escorregões das coberturas ao vivo, quando repórteres e apresentadores têm que lidar com o inusitado, não contam com o conforto do teleprompter e o tempo adequado para as devidas produções. A tarimbada jornalista Leilane Neubert (Globonews), por exemplo, disse que pela primeira vez em tantos anos de exercício do jornalismo, vê a população participando intensamente, denunciando e auxiliando o trabalho das Polícias. Ela diz que antes predominava a lei do silêncio. Em outro momento, Leilane repete que “depois que a comunidade parou de dar apoio e cobertura aos traficantes....”

Que equívoco!!

Tão tarimbada e morando no RJ e não lembrou que até então o tráfico era o único poder instituído nos morros? Por quase três décadas o tráfico era o governo nas favelas: proveu serviços como transporte, auxilio em doenças, distribuíam até comida, em troca de absoluta obediência. O preço pago por quem abrisse a boca era a morte sumária. Quando essa mesma população viu-se amparada pelo poder público, o que até então não acontecia, ofereceu cooperação. Simples assim.

Em contraponto às várias oportunidades de querer jogar no colo da população a relação dos traficantes com as comunidades, registre-se aqui o comportamento corporativista da mesma Leilane e do repórter que registraram a prisão do condenado Zeu, cujo mais forte aposto para qualifica-lo era a participação do meliante na morte do colega de emissora Tim Lopes. A entrada do repórter na programação, e sua apresentação do bandido no ar foram catárticas.

Vale registrar a supremacia da TV Globo, via Globonews, na cobertura dos eventos que culminaram na histórica derrota do tráfico, pelo menos por ora, no RJ. A BandNews, que curiosamente fez uma cobertura exemplar no resgate dos mineiros do Chile, se limitou, neste evento, a boletins burocráticos no meio da programação normal, como se passasse receitas de bolo aos seus telespectadores. Isso pode ser explicado pela sua pequena presença no Estado, e portanto as equipes devem ser exíguas. O que não exclui o fato de ter deixado de dar notícia de qualidade para sua base de assinantes em nível nacional, já que poderia ter deslocado equipes de São Paulo para o Rio de Janeiro. Tempo teve para isto. Infelizmente não posso registrar a participação da RecordNews, porque não tenho essa emissora na minha grade de TV a cabo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MELHOR ÀS VEZES É FICAR COM A BOCA FECHADA

É evidente que a população carioca, e todos os brasileiros, claro, querem saber o que têm a dizer as autoridades: governador, prefeito, e até o presidente, por que não?

Sinto informar: eles não sabem o que dizer. Não têm a menor ideia do que está acontecendo e estão catatônicos. O prefeito da Cidade Maravilhosa acaba de conclamar o povo a não se acovardar. Tentei uma tradução do termo: saiam às ruas e enfrentem os bandidos; façam o que nunca tivemos, nós os políticos, coragem de fazer quando jogamos a sujeira embaixo do tapete e fingimos que a cidade era, realmente, maravilhosa.

Nesse momento, o bairro da Penha é a imagem real de uma praça de guerra: BOPE e blindados da Marinha se aglomeram e a impressão é que andam em círculo. Só hoje foram mais 14 veículos incendiados e o dia está apenas na metade. E o prefeito vem a público pedir que a população não se acovarde. E tem mais: no meio do caos, dessa guerra insana, o prefeito completa dizendo que essa onda de violência não vai impedir a realização da Copa e dos Jogos Olímpicos.

Eu fico realmente chocada com a capacidade de pessoas públicas, políticos principalmente, de produzir pérolas como essa, em meio à guerra implantada pelos bandidos no RJ. Vou tentar traduzir essa também: povo da minha cidade, não importa o medo, desconforto, pavor, perdas e insegurança que vocês estejam sentindo nesse momento. Os grandes eventos vão acontecer de qualquer jeito, porque nós precisamos "vender" o RJ como principal destino turístico brasileiro. O resto é balela. Contamos com a ajuda das novelas das 21hs, das celebridades que certamente comporão as proóximas passeatas que terminam na praia, com todo mundo seguran do rosas vermelhas e se abraçando.

A incompetência dos governantes, que há décadas vêm fingindo que fazem e o povo fingindo que acredita, levou o Estado à situação em que se encontra. Décadas de corrupção e megalomania produziram esse resultado, que tudo indica, incontrolável.

O Rio de Janeiro parece ovo de passarinho: tem a casca muito fininha. A Cidade Maravilhosa é um pedaço de orla marítima. O que sobra depois dela tem cheiro de urina. São verdadeiros heróis os que vivem na cidade, criaram uma família e trabalham dia-a-dia em busca de uma vida melhor. No lugar de Eduardo Paes, eu não pediria que essas pessoas não se acovardem. Eu pediria que se protegessem em casa, pois fecharíamos o Estado para balanço.

Para nós, que acompanhamos tudo de longe, as imagens são avassaladoras. Prédios sendo evacuados no centro da cidade; 21 escolas e 12 creches fechadas, explosões que podem acontecer em cima, ao lado ou bem perto de qualquer cidadão de bem que mora na cidade do Rio de Janeiro. E vem o prefeito pedindo ao povo que não se acovarde. Será que prefeito, governador, parlamentares enfim, mandaram seus filhos à escola hoje? De onde saiu essa pérola de discurso, pedindo à população para não se acovardar? Evidentemente de algum gabinete cercado de seguranças.

Haja rivotril pra esses políticos, porque essa crise vai emendar com as chuvas do verão, e novos morros vão desabar sobre muitas cabeças. Mas isso parece não ter importância, porque o desabamento do Bumba já foi devidamente esquecido, juntamente com as pessoas que alí moravam, e tudo está pronto, à espera da nova tragédia.

Eu quis escrever um artigo sob o viés da comunicação. Não dá, porque antes de um plano de comunicação, é preciso que haja uma organização social: uma empresa, uma cidade, um país, por exemplo. Não foi possível, porque hoje o RJ não é nada disso.

E os políticos? Ora, os políticos: estão pensando nas próximas campanhas, ora bolas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

VISÕES EQUIVOCADAS SOBRE A CRISE DE SILVIO SANTOS

Hoje o jornal O Estado de S. Paulo (caderno Negócios) trouxe uma matéria interessante assinada por Marili Ribeiro, primeira iniciativa clara da grande imprensa em dissecar a condução da crise no braço financeiro do grupo Silvio Santos. Marili é sambada na área, cobre assuntos de propaganda e comunicação com textos brilhantes, no jornal ou no seu blog.

O texto deixa claro – nas entrelinhas – que não existe profissional da área (gestão de crise) na equipe, liderada pelo próprio Silvio Santos. Como adiantei em post anterior sobre o mesmo tema, é o próprio SS que desempenha o papel. Previsível.

O publicitário Sergio Guerreiro declara na matéria que a entrevista de SS na Folha S. Paulo (a primeira depois da notícia do rombo, dias antes) teve tom “galhofeiro” e portanto foi inadequada. Discordo em gênero, número e grau. Por quê?

1- A colunista Monica Bergamo furou toda estrutura e pegou o empresário em casa, por telefone. Ele poderia ter se esquivado, dito que estava ocupado e, portanto, não atendido a repórter.

2- Atendeu e foi absolutamente espontâneo, usando de artifícios que o caracterizam há décadas na televisão. Estranho seria ler um SS totalmente sério, falando economês: o público e o mercado (a quem ele se dirigia na entrevista) não o reconheceriam e a mensagem teria um tom maquiado, falsificado. SS também não perdeu a oportunidade de fazer uma piada na entrevista publicada pela revista Veja com o paresentador. Portanto, nada com ele é por acaso. Ele desenha a estratégia e a executa.

3- O tom da entrevista confere credibilidade, passando aos interessados o recado de que o fato não o derrubou, mas estava, desde então, sob seu controle. E por isso mesmo ele usou o mesmo tom que o caracteriza, sem maquiagem ou malabarismos tecnocratas.

4- Isso mostra que o gestor tem que manter, mesmo durante a crise, valores, crenças e reforçar a missão da organização, mesmo que por vias indiretas e linguagem subliminar.

5- Guerreiro recomenda também a adoção da mesma postura do principal executivo da Toyota, que foi a público pedir desculpas após uma sequência de recalls em seus automóveis. Não podemos nos esquecer que o presidente da montadora demorou muito para adotar a iniciativa, e só o fez quando a situação já era insustentável. Ao contrário do Silvio Santos, que agiu prontamente. Além disso, o formato usado pelo executivo da Toyota é muito próprio da cultura japonesa, que não guarda semelhança com o comportamento empresarial brasileiro. Pelo contrário.

6- Mesmo sem o pedido formal de desculpas (não teria porque: ele adotou todas as medidas necessárias, disponíveis e cabíveis, até agora, para estancar a sangria do Banco), o Grupo SS fez veicular fatos relevantes em seus próprios canais e na mídia impressa.

7- As situações são completamente diferentes entre Toyota e Grupo SS. A Toyota estava colocando em risco vidas humanas e demorou para reconhecer o fato. O Grupo SS se colocou à disposição para promover o saneamento do Banco, não usou dinheiro público e colocou seu patrimônio em garantia.

Gestão de Crise não é uma ciência exata e nem tem ferramentas de prateleira. Cada circunstância requer uma textura, uma temperatura diferente um perfil de equipe difernte. A observação (atenta) de cada caso oferece legítimas oportunidades de aprendizado. E o titio Silvio ainda tem muita coisa a ensinar a muita gente.

O LIMITE DA (SUPER) EXPOSIÇÃO

Evidentemente eu não tolero qualquer viés de discussão que leve ao limite da liberdade de imprensa. Penso que as pessoas que defendem essa tese o fazem por total incapacidade de pensar em algo mais últil que justifique seus salários, e o tema os faz permanecer no centro das atenções – a meu ver uma espécie de psicopatia.

Esclarecido esse ponto, quero colocar em pauta a “qualidade” da notícia. Algumas aulas da faculdade de jornalismo estimulam o aluno a enxergar o que efetivamente é ou não uma notícia. Mas a velocidade dos fatos e as dificuldades estruturais das redações (pouca gente, arrogância e muitas vezes incompetência) tem distorcido a finalidade do jornalismo em alguns veículos: informar o leitor. Como eu leio de 3 a 4 jornais todo dia e muitas revistas por semana, concluí que essa premissa tem sido confundida com “publica essa matéria porque essa pessoa é legal”, ou “publica porque eu adoro o jeitinho dessa pessoa”, ou “publica porque todo mundo gosta”.

Funciona assim: as redações elegem um personagem e publicam qualquer besteira que o sujeito decla (sempre o mesmo). Às vezes muitos veículos ao mesmo tempo, com o mesmo personagem, forçando a barra para impor uma tendência de pensamento, ações etc. Tivemos a época da Xuxa e todas as respirações de sua filhinha Sasha, e todo esforço mímico da apresentadora em parecer um ser inanimado, uma boneca de louça assexuada e eterna viúva de Airton Sena (tão conveniente esse clichê !!).

Em menor proporção, mas não menos entediante, tivemos a era Surey, filhinha de Tom Cruser. O site globo.com fazia uma matéria sempre que a menina trocava de roupa, sorria, cortava a franja ou respirava.

Cá pra nós: que importância histórica, contemporânea, econômica, cultural ou seja lá o que for, tem para nós, brasileiros (imagino em nível mundial,mas tudo bem, quero ser condescendente) a respiração da filha de Tom Cruse, a ponto de publicar centenas de notinhas sobre a garota? Ou o sujeito que escrevia a respeito foi demitido da publicação, ou arrumou outro personagem mais interessante, porque a era Surey desapareceu, e o mundo não acabou. Ninguém percebeu.

Neste exato momento estamos na era Eike Batista. Eike mudou o cabelo; Eike disse que compraria o SBT, Eike, Eike, Eike..... Em que pese o fato de Eike figurar diariamente nas páginas econômicas, a maior parte das notícias é desprovida de apuração que dê consistência aos fatos: os jornalistas estão publicando qualquer coisa sobre ele: ou porque ele manda via assessoria de imprensa, ou porque liga diretamente para as redações, ou pelo simples exercício do repórter em usar a mesma fonte, porque é mais fácil e assim resolve logo a fatura e vai embora para casa ou para qualquer outro lugar que não a redação.

Eike Batista até que era uma pessoa elegante, antes do seu divórcio com Luma de Oliveira. Ficava na dele; ela era a virtrine do casal. Adorava os holofotes, afinal esse era o seu meio. Até aí, nada demais. Ela fez a festa de muitos paparazzi e os ajudou a pagar as contas.

Mas alguma coisa aconteceu depois do divócio, que mexeu muito com a cabeça de Eike. Sua elegância foi para o brejo. Na ânsia de aparecer a qualquer custo se tornou deselegante e chato. A útlima grosseria foi declarar, um dia depois de anunciado o rombo o Banco PanAmericano, que compraria o SBT. Evidentemente teve que desmentir no dia seguinte, o que tornou a situação mais bizarra.

E por falar em coisas bizarras, uma vez dei de cara com um post dele no twitter que me deixou catatônica. Era mais ou menos assim: “meus amores, vou sair agora, mas já com saudades; não consigo mais viver sem vocês” (recado aos seus seguidores na rede social).

Os repórteres de uma fonte só não questionam nada, publicam, seja qual for a baboseira da hora. Boa foi a resposta de Silvio Santos, que deve ter deixado Eike sem dormir até agora: quem? Eike Batista quer comprar? Quem é essa pessoa? Eike deve ter consumido uma caixa de rivotril com a evidência de que pelo menos uma pessoa o ignora solenemente. Mas ele já deve ter tomado providência para corrigir esse (gravíssimo) erro.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

MUITO BLA BLA BLA. NADA MAIS.

Eu ainda era foca numa revista especializada em propaganda (isso já vai mais de 25 anos) e já ouvia "especialistas" decretando o fim do rádio com a força da televisão. Essa discussão começou bem antes, logo que a TV surgiu no Brasil. Aos poucos todo mundo percebeu que ninguém engoliu ninguém. Canais de comunicação não morrem; o que há é substituição de tecnologia: a fita cassete, a máquina de escrever, (o fax ainda funciona em algumas atividades) e por aí vai...

Mas não é a opinião do Plinio de Arruda Sampaio. Cumprindo à risca a estratégia de manter o nome na roda, esta semana ele decretou o fim da televisão, que, na sua opinião, será substituída pelo twitter. Ele adorou a brincadeira, evidentemente. O que mais me espanta é que alguns veículos ainda cravam uma besteira dessa como pauta e dão o espaço tão almejado pela fonte. Menos Dr. Plínio. Tem tantas coisas mais importantes e sobre as quais o senhor conhece muito mais, por que ficar no raso?

Não entendo a ânsia das pessoas em querer matar uma coisa para que a outra possa entrar, se a própria dinâmica social tem nos mostrado o contrário: a infinita capacidade do ser humano em agregar, somar, adaptar-se a novos conceitos, sem, necessariamente, abdicar de velhos métodos, que ainda nos são confortáveis.

Lembro-me até com muito humor quando vi pela primeira vez meus filhos conversando -- via MSN -- com 30 amigos simultaneamente. Francamente nunca me passou pela cabeça que aquilo os faria abandonar o celular, os encontros nos "points" ou qualquer coisa que o valha. Espanto foi pela agilidade mental dos caras, a capacidade de se adaptar a uma nova midia tão rapidamente, sem abrir mão das demais que já utilizavam. Me deu até uma certa inveja (eu só aderi àquela mídia tempos depois: medo, vergonha de não saber mexer direito....coisa de gente da minha geração).

Não que o MSN não tenha conquistado os catastróficos de plantão. Sobre ele ainda caem críticas a despeito da redução das palavras, dos neologismos, abreviações "que vão acabar com a língua portuguesa", e os bla-blá-bla de sempre.

Ao modernissimo, mas chato pra xuxu, Plinio de Arruda Sampaio, garanto: o twitter não vai substituir a TV, o MSN não vai acabar com a lingua portuguesa etc e tal. O que vai acabar -- um dia -- é a paciência do povo brasileiro com políticos que insistem em subestimar nossa capacidade de entendimento, com discursos vazios e teses ultrapassadas. Essas sim, estão com os dias contados.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A CRISE DO PANAMERICANO

Ainda é cedo para apontar o futuro do Banco PanAmericano. Tudo indica que muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. Mas um fato, que não surpreende, já está delineado: Silvio Santos não delegou a ninguém a gestão da grave crise que se abateu sobre suas empresas, e muito provavelmente sobre a própria família. Ele tomou para si a responsabilidade do saneamento do Banco e, sobretudo, da proteção – o quanto é possível nesses casos – da imagem institucional das demais empresas do grupo.

Beirando os 80 anos, por maior que tenha sido o tranco, o Sr. Abravanel retomou as rédeas do negócio. Sambado depois de tantas décadas diante da televisão, vem enfrentando o caos conforme as melhores práticas dos manuais de crise.

Não se escondeu. Escreveu de próprio punho um comunicado que está sendo veiculado em suas emissoras de TV. Deu entrevistas sem alterar o perfil que o caracteriza há tanto tempo: o bom humor, por mais que estivesse dilacerado. Não fugiu das perguntas inconvenientes, mas usou argumentos certos para não detalhar as respostas.

Segundo relato de um dos advogados que cuida do caso, ao sair de uma reunião pesadíssima, a primeira da qual participava com o apresentador, o encontrou na garagem do prédio dando autógrafos e tirando fotos com fãs. Evidentemente com aquele sonoro sorriso nos lábios.

EM CADA CRISE UMA LIÇÃO

Eu entendo que toda crise corporativa traz sempre uma lição embutida não apenas para quem está envolvido diretamente com ela, mas para o mercado como um todo. Poucas empresas, ainda, tomam o cuidado de traçar planos de contingência. Às vezes, basta observar e encarar o óbvio: enfrentar, identificar o risco e adotar medidas, que nem sempre são as mais simpáticas.

Nesse caso específico, o óbvio estava escancarado: a falta de habilidade dos gestores, ou pelo menos do principal: o presidente do Banco. A crise do PanAmericano mostra ao mercado de forma avassaladora que [na visão do controlador familiar] os interesses corporativos não podem se sobrepor aos interesses familiares.Fica evidente que as empresas são organismos dinâmicos e independentes e se movem de acordo com interesses do mercado e não de seus idealizadores. Tentar acomodar interesses pessoais às práticas corporativas dificilmente dá certo.

As empresas estão habituadas a adotar planos de contenção de riscos que abrangem conteúdo técnico específico: acidentes, logísticos etc. Quando se trata da proteção da imagem institucional o cenário muda radicalmente: a incidência é infinitamente menor. Muitos empresários adotam a condição “low-profile” como medida de proteção, achando que estão protegendo a Companhia e a marca. A sofisticação do mundo corporativo torna essa medida, senão risível, no mínimo inocente demais.

Identificar os riscos, aceita-los friamente e corrigi-los, independentemente dos interesses pessoais são medidas de contenção que foram ignoradas por Silvio Santos, em favor de interesses familiares. Esse tipo de bomba relógio fica incubada durante muito tempo, prontinha para ser detonada. E foi o que ocorreu no PanAmericano. Hoje os jornais estão recheados de razões para que não se mantivesse Rafael Palladino na presidência do banco, em face de suas (poucas) qualificações para o cargo. Dezenas de “fontes não identificadas” que falam hoje aos jornais sabiam disto. Só Silvio Santos não sabia? Essa informação saiu do nada? Nunca circulou nos meios financeiros restritos? Ok, papai-noel existe e coelhinho da páscoa também.

E OS ASSESSORES / CONSULTORES?

Esse cenário traz à tona outra questão importante: a participação de assessores e consultores nas restritas equipes dos altos executivos. Para que servem esses profissionais senão para orientar, apontar e identificar zonas de atrito e risco? Silvio Santos poderia ter ignorado o fato de ter um executivo desqualificado tecnicamente para um cargo de altíssima responsabilidade. Mas dificilmente o fato era ignorado por toda uma equipe de assessores que gravitam o grupo SS. Ninguém disse a ele? Por que? Medo de ferir suscetibilidades? E as auditorias, obrigatoriamente contratadas para analisar balanços? Ah! Mas eram contratadas só para auditar balanços. Ok, lá vem papai noel de novo.

Encaremos os fatos: falar a verdade, apontar um erro e identificar um risco nem sempre é notícia agradável ao executivo. A medida mais comum é, portanto, adivinhem? Claro, dispensar os serviços do assessor ou consultor, como queiram chamar.
E, evidentemente, entre perder um bom cliente, falar a verdade, cumprir a função essencial, melhor ficar no meio termo, o eufemismo. Eu finjo que assessoro e você finge que não é centralizador e só faz o que lhe manda a consciência (e a família, nesse caso). Numa analogia simplista: venda o sofá, lembrando a velha piada do homem que surpreende a mulher transando com o vizinho no sofá da sala e, em represália, vende o sofá.

Resumo da ópera: o que ocorreu no PanAmericano acontece ainda – e vai continuar acontecendo por um bom tempo – em milhares de empresas: andar na corda bamba ainda é a opção para acomodar interesses, ainda que se ponha em risco toda uma estrutura constituída, empregos e muito dinheiro.

Falar a verdade, se posicionar sem eufemismos e medo ainda é muito mal visto em grande parte das Companhias. O perfil psicológico da média do empresário brasileiro encara isto como afronta, falta de educação e desrespeito à hierarquia. Eu já perdi muitas contas porque abordei abertamente problemas que estavam debaixo do tapete. Alguns colegas atribuem a isto um comportamento “excessivamente emocional”. Mas eu sigo preferindo ser paga para fazer o que reza no contrato. Tem dado certo, apesar do preço eu resolvi pagar.

P.S. Escrevi este texto antes de ler a entrevista de Silvio Santos na revista Veja. A peça corrobora e reforça todas as considerações do texto. Uma peça para profissionais e aspirantes a gestores de crise.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

DEIXEI DE LER O CONTARDO

Combinei aqui de tratar sobre assuntos da comunicação. Sem querer entrar em questões semânticas, hoje vou mudar o rumo da prosa e falar sobre ética. Na Folha de S.Paulo de hoje tem um artigo de Contardo Calligaris que disserta sobre "terminar relações por meios eletrônicos" (e-mails, torpedos etc).

Eu lia regularmente o Contardo. A partir daqui, parei. Ele sustenta que os meios eletrônicos "facilitam" a difícil tarefa de por fim a um relacionamento. Esperava mais dele. Agora ele pareceu pequeno, rasteiro e superficial.

Essa premissa (da facilidade), se transportada para o mundo corporativo, tende a virar moda, ser normal, moderninho e vanguardista ser demitido por email, torpedo ou qualquer coisa que o valha, apenas porque "facilita" a vida de quem não gosta de encarar de frente as próprias escolhas. Afinal, quem recebe a mensagem é sempre quem foi preterido; portanto, pra que imprimir uma dose tão exagerada de respeito, se a relação ja acabou?

Há muitos anos, quando não havia email ou torpedo, fui demitida de uma empresa numa sexta-feira à noite, por telefone. Eu já estava em casa com meus filhos. Curioso que é uma cena inesquecível: eu estava brincando com as crianças, rindo, depois de uma semana dura, e de repente atendi o telefone. Bom, desnecessário o restante.

Vale abordar, sim, como fica cada vez mais permissivo a falta de coragem, a falta de respeito e a falta de um caráter mais firme para enfrentar aquilo que nos é desagradável. É com esse argumento, não com as mesmas palavras, que Contardo justifica sua "simpatia" pela forma.

Eu prefiro continuar estimulando meus filhos a encararem de frente as adversidades, assumindo plenamente as suas posições, sem subterfúgios, sem se esconderem, sem máscaras. Nesse caso específico, qualquer mulher que receba um email, torpedo ou qualquer coisa parecida vinda do Contardo, deve dar Graças aos Céus!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NUNCA JAMAIS EM TEMPO ALGUM....

Em entrevista à TV UOL, o ex-governador de São Paulo, Claudio Lembo, do DEM, meio em tom de brincadeira, meio sério -- e é nessa batida que os maiores e melhores recados são passados -- disse que José Serra ganharia a eleição se telefonesse menos para as redações. No Facebook, uma repórter sambada de guerra, daquelas muito boas, explicou que Serra liga, sim, para as redações, sobretudo para pedir que derrubem matérias desfavoráveis. Liga para a redação, liga para o dono jornal.

Não é de hoje que os profissionais de imprensa reclamam da postura de Serra. Por arrogância, mal humor e.... porque liga para pedir que derrubem materias que não lhe são favoráveis. Que feio, tão tarimbado....

Quando vejo casos desse tipo, fico com pena do assessor de imprensa do sujeito. Ele não é o único, claro. Mas um político na sua posição já teve tempo suficiente para aprender que essa atitude é absolutamente inadmissível na relação entre fonte e profissionais de imprensa. É, disparado, a lição número 1 em qualquer media-training (treinamento que melhora a performance das fontes junto aos jornalistas).

Se você quer arrumar um inimigo para o resto da vida, adote esse método. É infalível. Pior que isso, só pedindo para ler a matéria antes de ser publicada. Reza a lenda, contada e decantada em todos os bancos acadêmicos, que certa vez uma fonte, depois de uma longa entrevista pediu gentilmente ao repórter para ler a matéria antes da publicação. Gentilmente, também, o repórter respondeu que, se ele não tinha confiança naquilo que dissera, ele, o repórter, tinha total domínio sobre o que ouvira. Ou seja, cada um no seu quadrado, fazendo bem o seu trabalho e ponto final.

Pedir para a chefia derrubar uma matéria ou pedir para ler o material antes da publicação é a pior forma de se relacionar com a imprensa, seja lá qual for o cargo que a fonte ocupa. Isso viola a liberdade de expressão, é tentativa de cercear o trabalho alheio e por aí vai.

Eu já me deparei com essa situação, mas o cliente era novo, nunca tinha falado com um jornalista da grande imprensa e a entrevista foi meio de sopetão, e não tivemos tempo para as preliminares. No fim da entrevista, sem qualquer prurido, o sujeito vira-se para o repórter, da revista Veja, e pede para ler antes. Eu acompanhava meu cliente, estava sentada ao seu lado e gelei. Respirei fundo, coloquei minha mão sobre o seu braço e disse, obviamente, na frente do repórter: fulano, essa prática não existe. Você falou perfeitamente bem sobre o que lhe foi perguntado e cicrano é competente o suficiente para colocar desta forma no papel.

Ambos entenderam meu papel naquela circunstência e não se falou mais no assunto (exceto depois, claro, quando o cliente passou por um extenso treinamento). Mas pelo jeito, Serra é recorrente.

Não é fácil estabelecer equilíbrio nessa relação, mas quando a base dela é o respeito mútuo, a coisa fica mais fácil. Evidentemente, nem sempre gostamos daquilo que lemos sobre nós, nossa empresa ou nosso partido político. Mas conviver com o contraditório também é uma ação política, necessária em todos os campos de relacionamento. Cabe às fontes e suas respectiuvas assessorias (quando estas são respeitadas como tal) discutirem as melhores práticas, as melhores formas e conteúdos. Para que jamais tenha que passar por esse vexame.

P.S. Sou profissional de comunicação e como tal esse comentário não tem qualquer cunho político partidário. Apenas técnico.